quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Arlequim : Um desejo
Pierrot  : Um Sonho
Colombina: A Mulher


Em qualquer terra em que os homens amem.
Em qualquer tempo onde os homens sonhem.
Na vida.”




No limiar de me perder
Uma voz grita: Volta!
a outra sussurra: sim...
Eu na tênue experiência das coisas
ia, indo, nem conduzida, nem conduzindo
Eu sem saber, só procurava por mim

Em uma mão carinho e certeza,
na outra nenhuma promessa
Mas ilusão...
Construía castelos,
era meu vício de menina.
Porque meu corpo me jogava contra um,
mas a consciência das coisas que se prevêem
me reconduzia ao não
SUPERFICIAL, era o único amor
que ele saberia dar.

E dentro da menina,
quanto sentimento ainda cabia?
Aprender a ser um
Entender do medo e do desejo
Eu só procurava por mim, agora sabia.
Não sabia:
Quem poderia fazer a Colombina feliz

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Par - tida


  "Partem tão tristes os tristes..."            


 Cada perda um corte
Cada corte cicatriz
E nesse "comboio de corda"
Se mata a lembrança
ou se perde por um triz

Então qual paga nos cabe
se na memória uma constância...
nos recorda em febre,
nos recorta a pele e segue
entre ausência e ânsia?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O corpo e A voz



O barulho do lápis arrastando no papel a atormentava, naquele cômodo abafado o silêncio era quebrado periodicamente por esse ranger oco, agonia sutil pra quem pacientemente espera. Era só isso aquela mulher, uma eterna espera, não por causa das horas passadas numa cadeira desconfortável, era espera diária no canto dos olhos. Mais alguns tic-tacs e pronto! Veste o casaco, pega a bolsa e desce as escadas, apressa o passo durante o caminho de volta.

A casa estava vazia, num silêncio empoeirado. Entre os contornos turvos da meia-luz, tateava um recanto para o corpo. Joga as chaves, solta o cabelo e já com os pés despidos repousa num vão entre os móveis, sobre um tapete escuro. Seus lábios traçaram um sutil sorriso Pequenos prazeres — pensou – que ingênua delícia. O corpo frouxo se entregava ao chão sem reservas.

Enquanto o corpo repousa, a mente remonta fatos, suscita certas lembranças e por um instante revive pequenos flashes, até eles serem dissipados por aquele silêncio amarelado. Porém, algo reage a seu corpo, um ruído seco a desviar seu olhar cego. Seu coração acelera —O que será isso?—Não ousa abrir os olhos, espera bem quieta. Tenta reconhecer o dono da voz, nada, a sua respiração abafa os sussurros que nada falam. Seus olhos não ousam abrir, não ousam, não ousam... A voz a toca! Fica gélida, num pavor que só o impossível pode conceber. Aquele timbre segue como se pudesse tocá-la,despindo-a nota a nota. Seus olhos não ousam entender, mas seu tato vai percebendo e compreendendo cada tênue roçar, cada oscilação, cada atrito tenso ou impreciso.

A voz a tem, ela tem medo. Mas tão inebriada por sua própria pele e por aquilo que seus ouvidos teimam escutar se converte em sim. O timbre se mistura a boca, corpo e mãos. Os barulhos abafados, que se convertem em voz e respiração, comungam com ele. Ela, agora, também é som... Ele agora também é corpo, e naquele instante despidos de mundo eram um.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Relato do vão

Ecoavam em silêncio,
nas pálpebras da memória e das rugas,
palavras caducas,
aparas de sonhos e de vida,
ditas entre versos e não.

Naquele instante, em suspiro, hesitou-se,
depois fez-se clarão!
Ora, era meio-dia, mas chovia!
Pensar era aquilo mesmo...
Névoa e Significação
Coisa louca como já dizia uma amiga,
"Palavra Chão"
Bom, se era chão não se sabia,
mas chovia num empoeirado meio-dia,
viver era aquilo mesmo:
um incansável entre, Vão.

domingo, 1 de agosto de 2010

Maria marina, canto e lágrima






Gota de sal 
no mar, cor
Gota de sal 
no rosto, dor
Não rimarei amores marinos 
com dores de cais!
Como a rima antiga previa,
"O tempo leva
O vento traz"

Cantarei assim em assobio!
Emudecendo o ruído,
dizendo só sentido...

E quem sabe eu, 
talvez sentido, talvez tristinho,
cantarei então baixinho 
um canto em flor e paz.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Passo




Mil passos calados
Me guiam para longe
Sem saber ao certo
Destino ou sorte

Praguejo, esmoreço... sigo.
Numa travessia imprecisa
Teço círculos.
Confundo-me.
Acerto o passo.
O ritmo oscila entre poente e nascente.
Paro e me revigoro
no vigor do abandono,
Me ponho em prontidão.

 
Em dias amenos sou leve e
passo
Noutros pouso,

e como ave, num vício triste de liberdade,
Sempre parto batendo asas,
antes que comece a gostar.


 

domingo, 4 de julho de 2010

Fragmentos I





         Na ausência o tinha com saudade aflita, num querer contínuo, suave e puro. Limitava-se a não entender como quem sabe das coisas plenamente sem dar-lhes nomes. Calado o sentimento grita, entendia sem perguntar o por quê. Talvez os astros, o destino ou o acaso a jogara naquela armadilha... Sentia sua respiração, pressentia cada gesto, cada sussurro era um toque em seu corpo e nada mais importava só aquele gosto doce e novo em sua boca.

 

sábado, 3 de julho de 2010

Haicais para dias de Chuva


 





 
Haicai - I
 
Uma gota cai
Molha a folha torta e borra
Letras em vitrais


Haicai – II

Gosto acre tortura
Sendo assim a nuvem cospe
E não chora a chuva


Haicai – III

Depois destas palmas
O sol dorme nesta praia
Precipita a chuva





quinta-feira, 1 de julho de 2010

  

Estrada

As luzes correm em borrões,
deixando um silêncio oco pelo caminho.
Numa estrada comprida
"With Arms Wide Open" começa a tocar...

Vago entre ponteiros e asfalto
Mas contar as horas é pouco
Agora sei que elas me vem pesadas,
sem que haja dor ou tristeza.
Elas não me dizem nada,
e por um instante recuo os pensamentos,
ajeito a manga da camisa xadrez,
sigo mudo,
segue mundo.
"I hope", "I hope" ...toca mais uma vez.

 

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Haicais cheios de Maresia


Haicai – I

Quebranto do mar
É atiçar os pés ávidos
Que teimam em passos


Haicai – II

As ondas rasteiras
Tecem um véu em renda branca
Sobre pés e pernas


Haicai – III

Um cheiro de sal,
Mar, marés e maresia
Cobre, despe e cala